quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

uma pilha no relógio




na parede
da cozinha
com seus
números
dourados

definhava
o tempo
exíguo
no relógio
pendurado

sobre
acrílica
órbita
escura

o fim
incerto
aventurava

na vindoura
hora futura
onde o tempo
se acabava...

Hora
de trocar
a pilha

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Terra

Jazem,
derradeiros,
olhos azuis sob a mortalha,
tecida em matéria escura
bordada com nebulosas,
cobrindo finitos rastros
de fenecidos sonhos,

...uma estrela agonizante,
vermelha,
obscura,

um planeta congelado,
um esquife,
uma lua...
 
 
 
Veras

Do tempo Cósmico...

Entre o fechar
e o abrir dos olhos,
ascendem e caem
árvores e impérios,
dilemas e ilusões
amores eternos,
homens e deuses...

Entre o fechar
e o abrir dos olhos,
escura explosão,
novo universo,
extinção...

eis ai,
então,
a grandiosa saga humana,
em um piscar de olhos
de um entediado e circunspeto
tempo cósmico...
 
 
Veras

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Lennon


Cada secreto John em nós
tem a Yoko que merece,
tem seu Chapman que aparece
recostado em grades frias
da Nova York que anoitece...

Cada secreto John em nós
tem seus tiros que merece,
súbitos
pelas costas,
do mundo inteiro que entristece...

Cada secreto John em nós
tem seus corações parados,
apertados,
nas mãos dos estupefatos
cirurgiões, que constatam
as semelhanças dos corações...



Veras










terça-feira, 23 de novembro de 2010

Quietude


Quis ser colhido pelas flores,
pentear a ventania enlouquecida
ornamentar túmulos de vãos amores
deixar o mar, formalmente
adentrar a sala arrumada,

sem me importar
com o olhar circunspeto
da falecida do quinto andar,
aliviado e quieto,
deixar o ar me respirar,
a musica me cantar
a vida me viver,

e num ato de misericórdia
deixar a morte morrer... 
 
 
 
Veras

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Eu te inventei


Com partes arrancadas de mim
te criei,
te encantei
te adorei por inteiro,
te conduzi
pelas expectativas lúdicas
dos curtos cordéis...

Eu te inventei,
te dei vida útil
em cada gesto,
cada ida dramática
e em cada volta festiva,
eu esperei.

mas a ilusão envelheceu,
cumpriu seu ciclo,
nasceu, cresceu, morreu,
e você, virou você mesma;
vai com deus... 
 
 
 
Veras

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Bar


Agora eu sei,
Ela me vê
Mas não me olha com paixão

Passa com graça,
Eu na cachaça,
E mais um poema
No guardanapo do balcão

Olhos cansados
Nariz na vidraça
Suspiros de amor
No vidro que embaça

Mais uma pura
Faço uma jura:
“Não vou me humilhar!”

Pego o caminho de casa
e doido,
vou devagar,

vou planejar... 
 
 
 
 
Veras

Involuntários


Filhos das colisões
das fricções
dos acasos
das explosões,
cá estamos nós,
involuntários,
da árdua tarefa de viver,

Até que a morte,
em sua arte de colher,
sem previa consulta,
arranca-te dessa terra
sem você querer...
(involuntariamente) 
 
 
 
Veras

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Meu poema sem fim


Pousa cândido,
e rasteja tétrico,
dorme entre crianças
e as devora pela manhã...

Ele nunca terá fim,
e a releitura sempre o despertará,
incômodo
apertado
incompleto
insatisfeito
expondo seu pleito
às setas dos meus olhos cúmplices

Este amórfico poema
implora, aos prantos
que eu o abandone,
que o deixe renascer
nos olhos de outros tantos
que o queiram ler
sem suscitar os espantos
do meu compulsivo reescrever



Veras







terça-feira, 2 de novembro de 2010

Solitude





Solidão
Parceira infiel
Nos secretos porões
Nos festivos salões
Que vem quando quer
Quando bem entende,
Sabe-se lá de onde,
Se das alturas
Em que se aninha,
Ou se das cavernas
Cavadas em mim

Que não toca campainha
Ou assovia pra janela,
Pois, sendo “ela”,
É pés nos saltos, largas ancas,
Arrombando minha porta,
Remendada e já sem trancas

Parceira sazonal
Mãos frias
Em suada fronte
Carinhosa
Não me quer mal,
Mãos que podem salvar
Puxando-me, cuidadosa,
Dos escombros dessa mesmice...